terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Ao pé da letra

Um grande tempo se passou desde que escrevi algo. Talvez estivesse sofrendo efeitos de uma nova forma de ver o mundo e seus componentes. Mas acho que estava mesmo sem vontade alguma de pensar e digitar, afinal, estava na Disney. Notei certa mudança em mim quando estava no avião, voltando para casa. No voo da ida, comecei a ler um livro, o qual prefiro não identificar. Achei que a personagem principal tinha uma visão incrível sobre as coisas, algo que era consequência de sua notável inteligência. Porém, ao ler os capítulos restantes na volta, a concepção sobre o comportamento dela não era a mesma.

Cada dia da viagem me deixou mais criança. Me encantava com as pessoas fantasiadas de personagens que prendiam minha atenção na infância, pintei a cara e tinha vontade de levar tudo que é bicho de pelúcia. Óbvio que minha consciência se manteve sã e salva, mas quando falo de tal infantilidade, digo sobre esse poder de ficar maravilhada com tudo que vê, algo que atiça a curiosidade diante das simplicidades. Não foi uma visita ao Tio Sam que me fez a cabeça e agora sou sua fã de carteirinha. Foi uma viagem que me fez perceber uma alteração que estava apenas florescendo, isso de ver às vezes as coisas como se fosse a primeira vez. O hábito, o envelhecer, nos tira a maravilha de ver maravilhas na simplicidade que oferece cada segundo do dia.

A personagem era uma cópia fiel de todos nós, que apesar de tão diferentes, conseguimos ser iguais em alguns aspectos por conta do costume. Sem generalizar, ela era ligeiramente pessimista e não desfrutava de muitos sonhos e esperança. Era realista, completamente. Desde que me entendo por ser capaz de escolher sua filosofia de vida, sou ou fui desse mesmo tipo. Nada contra a quem gosta de ser assim, mas se estou mudando, que assim seja. Acreditar em tudo como realmente é, sem me indagar e impressionar, sem me questionar, sem crer, sem sonhar, sem idealizar não faz mais parte dos meus planos. Antes acharia que estaria de cara com a ignorância, pronta para ser devorada. Hoje sei que não levar tudo ao pé da letra e atrever a imaginar significados além dos que meus sentidos permitem, me traz um encanto de um mundo que apenas aparenta normalidade.

Gabriela Martelo

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