segunda-feira, 26 de maio de 2014

Coragem

Estava dando uma olhada nas notícias, até que vi uma que falava sobre um possível sequestro terrorista do avião da Malásia, que está desaparecido há um mês. Acompanho o caso desde o início, e me lembro de como as famílias dos passageiros ficaram desesperadas quando foi anunciado que o avião caiu e que não havia nenhum sobrevivente. Elas tinham certa expectativa de que seus próximos estivessem sã e salvos, longe da profundidade de um oceano e de um desencontro com a vida. Uns falaram que mesmo depois do anuncio essa ilusão continuava, pois enquanto não achassem os corpos, nada seria verídico. Eles plantaram uma esperança, essa que se rega com agonia e amor.

Ter esperança não é tão simples. É preciso coragem para mantê-la viva, enfrentando qualquer crítica ou choque de realidade. Poucos são os corajosos que semeiam os sentimentos expostos à qualquer tempestade, ainda mais nos dias de hoje, onde há construções demais para tentar salvar tudo que há de mais natural. É preciso a bravura presente em guerras da antiguidade para dizer um sincero "eu te amo", é necessária a valentia dos príncipes que vemos nos contos de fada para tomar uma iniciativa para qualquer escolha, é importante ter o arrojo presente em atos heróicos para se dar o luxo de se apegar à qualquer pessoa. Os escritores, então! Há quem diga que são fingidos, mas sem dúvidas sentem na pele ou na própria escrita a consequência de expor toda sentimentalidade. Leio sempre que possível as crônicas da Martha Medeiros, e posso afirmar que essa aí é heroína.

Quando uma amiga me falou para fazer um texto sobre coragem, fiquei dias pensando sobre. Tudo que me vinha em mente relacionado à isso eram coisas distantes, como as que vi quando assisti, há uns dias, a continuação do filme 300. Mas a verdade é que vira e mexe estamos de cara com atos corajosos, tão entrelaçados com as nossas emoções. Não vou desejar força às famílias dos passageiros, isso eles possuem, só pela audácia de amar. Desejo apenas que a notícia sobre a qual falei no início tenha um pouco de verdade, pelo menos ao se tratar da sobrevivência dos que estavam no voo. Quem sabe a coragem dos que ousaram a ter esperança tenha incentivado esse mundo a ter um futuro menos sombrio?

Texto feito com mttt carinho pra Juliana Faria!

Tão

Era uma manhã 
tão manhã
o metrô lotado
o terno suado
o trabalho cansado
o café aguado
Quando o cheiro
tão cheiro
passou
e lembrou
que um dia
abraçou
beijou
recitou
suspirou
chorou
acabou.
A lembrança do amor
que era tão amor.

Príncipes

Sou apaixonada pelos filmes da Disney, mesmo com dezesseis anos na cara. E acho que nunca vou ter idade para deixar de vê-los, já que por trás de uma animação feita para crianças, há sempre uma mensagem muito boa. Hoje vi "Valente", lançado há um tempo. Conta a história de uma princesa chamada Merida, que fica furiosa quando descobre que vai ter um casamento arranjado, pois acha que ela é quem deve trilhar o próprio destino.

Durante o começo, deduzi todo o desenrolar: acontecerá algo e ela vai conhecer alguém que realmente gosta, criando uma confusão e achando uma solução no desfecho. Acabou que quebrou todos os clichês: não apareceu nenhum personagem do sexo oposto por quem ela se apaixonaria e teria um final "felizes para sempre". O objetivo do filme passou longe disso.

Se você pegar todas as músicas, livros e filmes existentes, verá que muitos abordam ou possuem algo sobre o amor. Digo amor de namoro, amor que faz a gente suspirar. Toda hora somos rondados por essa ideia de ter que existir alguém para amar, de que só quando conhecermos essa pessoa, a nossa felicidade virá. Li um poema lindo do Mário Quintana esses dias, o qual tinha um verso dizendo: as pessoas não se precisam, elas se completam... não por serem metades, mas por serem inteiras, dispostas a dividir objetivos comuns, alegrias e vida. E foi exatamente isso que o filme me passou, mesmo tendo absoluta certeza de que não foi a intenção dos criadores. Merida teve seu final feliz sem precisar de alguém para dar um beijo na última cena. E, num futuro fictício, se ela conhecesse o amor, a sua alegria não dependeria disso.

Achei muito bom o fato de existir uma princesa da Disney sem um príncipe encantado. Reforça, pelo menos para mim, essa ideia de que o amor não nos torna felizes, e sim que nós, quando felizes, estamos dispostos a incluir o amor.

terça-feira, 20 de maio de 2014

Segredos

Ontem, com a minha mãe, fiquei vendo um programa de culinária no gnt. Quando deu o comercial, uma mulher de porte magro, alta e bem arrumada tomou conta da tela e desabafou um pequeno segredo: era dona de uma empresa, mas, às vezes, não aguentava toda a pressão, se trancando no banheiro e chorando horrores. Não tinha entendido muito bem o objetivo do canal ao passar aquilo, então minha mãe explicou que sempre passavam um vídeo naquele estilo com diferentes mulheres, todas revelando algo secreto, por mais superficial que seja. Coisas do tipo: “eu leio revista de fofoca”, “eu ganho mais que o meu marido e ele tem vergonha disso”. Achei interessante demais.

Parece que quanto mais amadurecemos, mais nos envergonhamos de certos hábitos ou fatos, por mais simples e inocentes que sejam. Chorar quando não se sente tão bem não é favorável caso você queira passar uma imagem séria, ou até mesmo boa. Muitos escondem o fato de escutar uma música considerada ridícula, de ter um amor platônico, de se encantar com coisas consideradas bobas ou de ter um péssimo casamento.

Quanto mais aderimos a vida, maior é a distância da perfeição, já que tendemos a praticar atos que não condizem com os ideais. E, dessa forma, colecionamos mais e mais segredos. Crescemos com a ideia de que temos que ser corretos e perfeitos para ter uma vida digna e bem aproveitada, dominando todos os assuntos em uma conversa, tendo um excelente emprego, amando e sorrindo cada segundo do dia, além de seguir o que os especialistas falam, coisas sobre como criar os filhos e ter uma vida inteiramente saudável. Fala sério! Vou ler mil livros de autoajuda e, mesmo assim, vou deslizar quando não dá, deixar de cumprir metas por preguiça e vou me esquecer de cada dica que me incentivou por um segundo.

Viver não é só focar nos objetivos. Viver não consiste em ser feliz o tempo todo, em acertar tudo no alvo. Viver também é tirar um cochilo à tarde, gostar de coisas banais, terminar um relacionamento, bater com o carro no poste, ver um filme e odiar o final. Os segredos são uma parte do nosso viver que guardamos apenas para nós. Mas é bom demais desabafá-los com alguém e notar que a vida é muito mais simples do que se idealiza.

domingo, 23 de março de 2014

Dia da Mulher

Como é difícil fazer um texto sobre o dia de hoje. Li alguns que estavam aqui no face, e nossa, sensacionais. Tentei escrever um que começou com um 'o que é ser mulher no século XXI' e desenvolveu-se em querer comer doce e não fazer nada o dia inteiro, ficar nervosa antes de um encontro e amar gestos carinhosos. Ou seja, meu texto estava repleto de toques pessoais que não englobavam à todas, somente garotas de uns 16 anos sonhadoras que tem uma obsessão por açúcar. Tão complicado escrever sobre o próprio sexo sem levar em conta experiências pessoais, tão complicado ser mulher e escrever sobre.

Deve ser tão trabalhoso porque mulher é esférica. Não é de fácil entendimento e plana. Em uma mulher possui várias complexidades e antônimos juntos. Nenhuma mulher é apenas santa ou apenas "vadia". Mulher é santa e vadia. Tem o seu lado carinhoso, quieto mas também tem seus momentos de descontração, de diversão, de excitação, quebrando os chatos tabus que persistem. Mulher é sonhadora como é realista. Mulher tem o poder de gerar uma criança do mesmo jeito que um dia foi gerada, tem o poder de assegurar por nove meses a perfeição biológica que possui a natureza. Mulher quer se arrumar para se sentir bonita e também quer estar de bem com o seu natural. Mulher na tpm chora, sente raiva ou nem sabe que está sofrendo disso, pois não sente nada. Há tantas diferenças e tantas semelhanças entre mulheres. Há tantos lados e caras numa mesma mulher. Tão complexa, tão surreal e ao mesmo tempo real.

Nenhum ser de nenhum sexo é perfeito para ser dotado de equilíbrio. Mas a mulher consegue transparecer perfeição com esse jeito complicado e ao mesmo tempo tão exato de lutar pelas coisas, apreciá-las e de deixar qualquer um doido. É o desequilíbrio mais equilibrado de todos. Feliz dia das mulheres!

sexta-feira, 7 de março de 2014

Felicidade carnavalesca

Nunca fui muito de pular carnaval. Tenho mentalidade de 80 nessa época do ano e não possuo a arte de saber sambar. Mas posso dizer que, nas vezes que fui à rua durante tal período, percebi o constante uso de um argumento simples, que consiste num "é carnaval".

Pode fazer tumulto nos transportes públicos, pode andar no meio da rua embriagado, sem se importar com os carros que insistem em passar, afinal, é carnaval. Pessoas desrespeitam umas às outras, zoando o excesso de peso, ressaltando o quão desprovido dos "padrões" o outro está ou simplesmente tratando como objetos sexuais.

Porém, eu gosto muito mesmo dessa energia positiva do período. De acordo com a mentalidade generalizada, pra quê brigar, pra quê se irritar se é carnaval? É uma época em que você pode transpirar sua felicidade de todas as maneiras possíveis sem ser julgado. Seria ótimo se todos os dias do ano fossem assim, você seguir sua rotina sem ser atingido por uma chatice e seriedade que engloba todos. Imagina se falassem "não se preocupe tanto, não fique com essa cara feia, afinal, hoje é mais um dia de vida". Eis uma meta que deveria ser seguida: levar cada segundo do ano com um espírito carnavalesco, usando-se o bom senso e o respeito.


Gabriela Martelo

Sobre respeito

A vida cotidiana é infestada de tarefas desagradáveis. Não deu outra: sexta recebi meu bloco de phs (exercícios semanais que a escola na qual estudo passa). Como estava numa aula que simplesmente queria ignorar, dei uma olhada na proposta de redação. Eu tinha que elaborar um artigo de opinião sobre a importância do respeito nas relações amorosas. Seria um tema fácil de desenrolar, porém mandaram levar em consideração não só o respeito ao parceiro, e sim à própria personalidade. E, claro, isso me fez travar. Porque eu não queria escrever sobre como o respeito é fundamental. Eu queria é falar sobre como é difícil respeitar à si próprio. 

Sempre vai ter um narcisista, moralista, qualquer coisa que termine com "ista", para falar que se dá o valor acima de tudo, que sempre se colocará em primeiro lugar. Mas ninguém compra flores para dar à si mesmo. Poucas são as pessoas que curtem uma saída acompanhada apenas pela própria sombra. Você, certamente, nunca está totalmente satisfeito consigo mesmo, seja relacionado ao interior quanto ao exterior. Sempre tem um detalhe a corrigir, um hábito que precisa mudar. Gargalhar com o silêncio de um cômodo não é lá essas coisas. E sentir saudades de se ver e de ouvir a própria voz, alguém declara tal ato? Se eu te perguntar "quem é você?", vossa senhoria teria a resposta na ponta da língua? 


Estamos tão habituados com o nosso eu que é difícil defini-lo, não nos damos o trabalho de explorá-lo. Muito mais fácil falar mal e bem dos outros, alvos que estão sempre no julgamento mental. Difícil proporcionar felicidade a quem nem se sabe definir. Fácil comprar bombons e fazer o dia do parceiro. Difícil ignorar (de verdade, não apenas dizer que não liga) olhares alheios e se vestir da maneira que tiver vontade. Fácil admirar a nova tendência na capa da revista de moda. Se é muitas vezes difícil ter respeito ao próximo, quem dirá a si próprio, maldito que vive para viver uma vida coletiva, esquecendo-se de viver o que há em seu ser.


Mesmo tendo dito que é difícil o auto respeito, acredito que um indivíduo, após muito sofrer com relações fracassadas, comece a ter um sentimento mútuo consigo. Não aprendemos a falar e escrever de imediato. Então porque com os sentimentos tem que ser assim? O respeito próprio não nasce com a gente. Ele vem de experiências exteriores. De fora para dentro. É necessário sofrer para adquiri-lo. Como dizia um poeta: quem não quiser sofrer, que se isole. E acrescento: e que fique sem uma gota do que seja feito de respeito.


Gabriela Martelo

Excesso

Um trânsito do caos na linha amarela. Minha mãe, um tanto impaciente no banco do motorista, comenta "como tem gente nesse mundo!", se referindo a absurda quantidade de carros, obviamente. Eu, entediada com a mesmice da paisagem que não andava, comecei a refletir sobre a fala dela, mesmo dita da boca pra fora. 

Tanta gente nesse mundo, tanta gente nascendo, morrendo, sobrevivendo, lutando, vagabundiando, trabalhando. Tanta gente e sabemos de cor, contamos no limite dos dedos os indivíduos que nos importam. População gigante e vezenquando basta falar com apenas um ser para sentir o dia vibrante. Não é preciso muito para ser feliz. O que não nos completa é apenas plano de fundo, o resto é figurante. 

Lembro que tem gente que chega ao ponto de matar por dinheiro. Polícos, não satisfeitos com o considerável salário, metem a mão no dinheiro destinado aos nossos direitos. Talvez seja inocência de minha parte indagar isso, consequência da minha pouca idade e experiência de vida, mas como seria se as pessoas soubessem o que é realmente essencial pra vida e felicidade delas? Continuariam se individando, comprando mais que o necessário? Nos casos extremos, continuaria havendo brigas familiares e morte por ganância? Será que existiria a tamanha injustiça e desigualdade que nos rodeia, com muitas crianças não tendo a oportunidade de estudar, por terem sido geradas acidentalmente, porque os pais não tiveram orientação, culpa do precário contato com a educação, que é algo que o governo pouco investe na estrutura e qualidade? Ressalto que isso é apenas UM dos muitos casos de ciclos que colaboram para a criminalidade. Pode ser que se aprendêssemos a tirar leite da pedra, mataríamos a fome de ver um mundo mais justo, e individualmente, mais feliz.

Gabriela Martelo

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Ao pé da letra

Um grande tempo se passou desde que escrevi algo. Talvez estivesse sofrendo efeitos de uma nova forma de ver o mundo e seus componentes. Mas acho que estava mesmo sem vontade alguma de pensar e digitar, afinal, estava na Disney. Notei certa mudança em mim quando estava no avião, voltando para casa. No voo da ida, comecei a ler um livro, o qual prefiro não identificar. Achei que a personagem principal tinha uma visão incrível sobre as coisas, algo que era consequência de sua notável inteligência. Porém, ao ler os capítulos restantes na volta, a concepção sobre o comportamento dela não era a mesma.

Cada dia da viagem me deixou mais criança. Me encantava com as pessoas fantasiadas de personagens que prendiam minha atenção na infância, pintei a cara e tinha vontade de levar tudo que é bicho de pelúcia. Óbvio que minha consciência se manteve sã e salva, mas quando falo de tal infantilidade, digo sobre esse poder de ficar maravilhada com tudo que vê, algo que atiça a curiosidade diante das simplicidades. Não foi uma visita ao Tio Sam que me fez a cabeça e agora sou sua fã de carteirinha. Foi uma viagem que me fez perceber uma alteração que estava apenas florescendo, isso de ver às vezes as coisas como se fosse a primeira vez. O hábito, o envelhecer, nos tira a maravilha de ver maravilhas na simplicidade que oferece cada segundo do dia.

A personagem era uma cópia fiel de todos nós, que apesar de tão diferentes, conseguimos ser iguais em alguns aspectos por conta do costume. Sem generalizar, ela era ligeiramente pessimista e não desfrutava de muitos sonhos e esperança. Era realista, completamente. Desde que me entendo por ser capaz de escolher sua filosofia de vida, sou ou fui desse mesmo tipo. Nada contra a quem gosta de ser assim, mas se estou mudando, que assim seja. Acreditar em tudo como realmente é, sem me indagar e impressionar, sem me questionar, sem crer, sem sonhar, sem idealizar não faz mais parte dos meus planos. Antes acharia que estaria de cara com a ignorância, pronta para ser devorada. Hoje sei que não levar tudo ao pé da letra e atrever a imaginar significados além dos que meus sentidos permitem, me traz um encanto de um mundo que apenas aparenta normalidade.

Gabriela Martelo

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Me levar para passear

  Hoje ia sair para levar minha cachorra, que ainda é filhote, pela primeira vez para passear. Após a ordem de ter que esperar alguns dias desde a vacina, a bicha finalmente poderia explorar a vida na rua. Chegando no asfalto, esperei que a "peste" se animasse e começasse a andar. Nada. Ficou ali parada, e depois quis voltar para casa de qualquer jeito. Me surpreendi, pois como era inquieta, achei que iria gostar de um passeio. Fiquei mais surpresa ainda com o fato de a minha pessoa ficar mais para baixo por não ter dado aquela simples volta.

 Então, sozinha, fui andar por aí. Algo que nunca me imaginei fazendo, isso de sair do conforto do meu quarto para vagar por aí, sem rumo. E me veio ao consciente que quando eu me ofereci para levar a Wendy para passear, não foi por querer fazer algum tipo de tarefa ou para libertá-la um pouco de casa, e sim porque eu necessitava andar um pouco, deixar a mente livre para vagar como os meus pés. Ter um tempo na companhia do meu próprio ser, ver o que tá errado e o que tá certo. Meu subconsciente queria isso, e meus pensamentos usaram o tal passeio com a cachorra para executar tal pedido.

  Porque, de fato, todas as coisas inocentes e aparentemente "bobas", se for considerar o padrão de pensamento para se encaixar numa sociedade que se julga normal, são repreendidas e enterradas no fundo da mente. E quando um ser, como eu, que não está ciente de que está tão alienado assim, tem vontade de praticar uma dessas naturalidades (no meu caso, dar uma volta sem rumo), inventa qualquer desculpa, inconscientemente, para realizar, agradando a si próprio e não se passando por ovelha negra.

Chegamos num ponto que o que demonstrar que menos se importa num relacionamento, sai "ganhando". O amor, algo tão puro e primitivo, se torna um jogo para ver quem sai melhor no desapego. A sexualidade, que era para ser dotada de naturalidade, se torna um pudor e motivo para muitas piadas. Além de nos impedirmos de praticar coisas tão adeptas da alma humana, criando desculpas, também tiramos o seu verdadeiro valor. Paramos de sentir intensamente pequenos prazeres, e passamos a idolatrar grandes objetos, logo se cansando e querendo o que estiver mais na moda. Não culpo o capitalismo, sistema que considero o menos pior de todos, embora ache que seja exagerado em muitas propagandas e dizeres. Culpo o pensamento humano, que toda hora quer se adequar ao útil e agradável. Talvez isso seja natural, mas só digo "talvez" mesmo porque não sei nada do continente Certeza, mas sei que uma volta ao ar livre de fato melhora o nosso coração e traz uma tremenda inspiração.

Gabriela Martelo

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Apenas falava

Falava-mos de amor como se este não ameaçasse dar a sua graça na nossa duvidosa atmosfera. Praticava-mos consequências do sentimento amoroso sem ter antes experimentado o mesmo, sendo então uma dança sem alguma música para guiar e completar a arte. Éramos fingidos e nada mais que meros atores não cientes de tal espetáculo, que a cada significante ponteiro estava mais próximo de um desfecho. No meio de tanta pirataria, tentei lhe mostrar entre os carinhos que me proporcionava sem paixão, os olhos meus que suplicavam o mínimo de seu coração. Doía-me ser seu refúgio de uma vida amorosa deplorável. Angustiava minha mente e sono a sua certeza quanto ao meu ser como distração. Falava-me de amor sem dar o trabalho de sentir o meu verdadeiro odor. Dava-me amor, ainda que com dor.

Gabriela Martelo

sábado, 4 de janeiro de 2014

Em branco

Sempre surge aquele momento em que você quer escrever tudo e simplesmente não sai nada. O papel fica lá, em branco, encarando a sua angústia com amargura. Aproximando a situação para se ter uma melhor ideia: é exatamente como querer falar tudo para alguém e não ter palavras que definam a ideia que tem em mente. É complicado traduzir as sensações para míseras letras. A mente não concilia com o coração, quase impossível reunir a razão com a emoção. Amaria receber cartas de amor, mas prefiro uma demonstração que interaja com os sentidos que dou sorte de usufruir. Palavras não são nada mais que uma frouxa tradução da alma. Mas ainda assim, conseguem nos comover e deixar qualquer escritor na loucura quando não são encontradas.

Gabriela Martelo