segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Dona do teu coração

  As ondas batem forte na areia como o vento brinca com os meus cabelos. Olho ao redor, e percebo que a praia está deserta. Apenas eu e a minha esperança de te encontrar. Pode parecer loucura esperar que alguém surja em algum lugar aleatório, mas você não é "alguém". Você gosta de sair por aí, sem rumo, viajar, não pensar na vida, apenas pegar o momento. E eu espero que você esteja passando por essa praia que aparenta ser vazia e tenha vontade de explorá-la.
  Eu olho para o mar, que se mistura com o azul do céu, e sinto sua presença. Não é a minha cabeça, olho para trás e lá está você, pouco se importando com o traje, andando desengonçado pela areia, que para mim é um charme. Mas você não me nota, não por ser a pessoa desligada que você é, mas porque está chorando. O seu ar indiferente para tudo simplesmente desapareceu. Você é dominado por sentimentos que achei que fossem só meus, mas você também os sente queimar no coração, pena que não é por mim.
    Entro no mar e nado até uma distância que seja segura o bastante para você não reconhecer o meu rosto. Fico ali no meio das águas observando a sua dor, que me traz uma outra dor por esse sofrimento não ser pela minha pessoa. Eu simplesmente sei que você não sente o mesmo por mim, senão me olharia de uma maneira diferente, não afastaria a mão quando eu tentasse tocá-la e não andaria com a mente tão avulssa quando eu estivesse por perto.
    Queria ser a dona do teu coração, que te machuca se não der sinal de vida, que te deixa voando com as lembranças vividas, que te faz arrepiar com um beijo. Queria ter o poder de te deixar assim, como está agora, no meio da areia, ainda que no chão, não firme. Mas na verdade é você que tem esse efeito sobre mim, e nada posso fazer para mudar isso.
    Vendo bem, estamos na mesma situação. Ambos muito tristes por um amor não correspondido. Ambos num lugar deserto, buscando na natureza algum consolo. Mas você está aí seguro na areia, enquanto eu, meu deus, estou sendo levada pela correnteza.

 Gabriela Martelo

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