segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Talvez


Não dá pra negar
Que tentei fugir
Das ondas do teu mar não sobrevivi
Juro que tentei resistir
A expectativa me alcançou
E cá estou:
Uma morta quase viva
Pensando no amor
E não sendo ativa
Vendo tudo que é cor
Nas almas da nossa vida
Jogando pedras na minha dor
Enquanto traço nossa linha
Talvez não saibas e não imaginas
Um talvez que é tão certo
Quanto a minha paixão peregrina.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Momento, não destino

Há ainda quem acorda com a traiçoeira ilusão de que a felicidade aguarda em algum lugar do destino, pronta para receber de braços abertos e nunca mais largar. Ela é efêmera. Curta ou duradoura, ela aparece e desaparece diversas vezes, e só é um ser feliz de verdade quem nota as suas visitas inesperadas. Felicidade não é uma consequência de alguma conquista, e sim meio de se chegar à ela. É como os outros sentimentos: você, certamente, não se sente triste a vida inteira, não sente saudade à cada milésimo de segundo e, por mais repugnante que você seja, não é sempre habitado pelo ódio. Generalizam que a felicidade é diferente, que um dia chegará e será eterna, porque há uma ideia de que o ato de sorrir está arqueado ao cumprimento de metas. A óbvia e tão não falada verdade é que você sente alegria nas pequenas coisas do dia, seja num ambiente familiar, num toque, numa voz, num cheiro, num beijo. Sendo assim, poderia dizer também que está entrelaçada com pessoas, porque a solidão mata a alegria de qualquer um.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Desapegue-se



Desapegue da maldade
da solidão
da escuridão.

Desague da traição
da dor
de um não recíproco amor.

Mas não use a arte de desapegar
para criar na vida de alguém
a maldade,
a solidão
a escuridão.

Não usufrua do desapego
para trair
causando dor
em alguém que achasse
a certeza no seu amor. 

Gabriela Martelo

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Saudade

Saudade é uma coisa estranha
que me faz estranhar
tudo que vejo na mente
e não mais me pertence.

Saudade é uma coisa triste
que me entristece
sempre que penso num olhar
que nunca mais vou apreciar.

Saudade é uma coisa alegre
que me alegra
toda vez que lembro da passada felicidade
e isso me faz sorrir de verdade.

No fim, a saudade
nada mais é que um caminho
através de pensamentos e sonhos
para chegar ao alcance do teu carinho.


domingo, 15 de dezembro de 2013

Do que foi feito

Do que foi feito o amor, que me deixa sem jeito na graça de uma flor? Do que foi feita a saudade, que faz os meus olhos te procurarem por toda essa cidade? Do que foi feita a solidão, que é a única que me dá a mão no meio de toda essa escuridão? Do que foi feita a verdade, que quando chega aos meus ouvidos destrói toda a minha vaidade? Do que foi feito você, que me faz querer sentir qualquer dor, porque mesmo na sua ausência, consigo sentir até o seu odor.

Gabriela Martelo

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Ano Novo

Um outro ano está chegando. Promessas fáceis, normais e impossíveis são feitas. Enquanto um grupo cria expectativas para uma nova vida, outro grupo fala sobre como devemos ser assim todos os dias do ano, e não apenas nessa passagem marcante. Não concordo com nenhum dos dois. Se você fica muito entusiasmado no dia 31, no dia 2 de janeiro você já se esqueceu praticamente da maioria de suas metas, mas se você for bem insistente, talvez consiga manter o foco até fevereiro. Se você fica com a ideia de que tem que ter desejos e procurar sempre evoluir sua vida todos os dias, você está se iludindo, assim como o animadão na véspera de ano novo. Um ser humano, ao meu ver, não é e nunca será perfeito. Acho muito difícil procurar mudar e curtir assim todo o santo dia. Se você consegue, parabéns, tem a minha sincera admiração. Mas voltando a falar da massa ou da grande probabilidade: o que fazer se não seguiremos os sonhos imaginados na queima de fogos? O que fazer se não estamos naturalmente programados para querer fazer acontecer cada minuto da nossa vida? A resposta é simples: nada. As mudanças e as coisas extraordinárias são processos tão lentos que passam despercebidos, mas acontecem. Sempre há algo novo na nossa vida, e infelizmente, sabemos disso inconscientemente. É claro que é importante ter um objetivo em mente, mas não se pode esquecer que nada é de uma hora para a outra. Talvez esta seja a resposta para os desejos não se realizarem como queremos: ficamos tão empolgados que queremos resultados rápidos, o que acaba desanimando no final. Pense no ano passado e neste ano. Alguma coisa mudou, com certeza. Um novo hábito, um novo amor ou até um novo visual. E, certamente, você não ficou pensando nessa mudança cada momento do ano. E ela aconteceu. As coisas são assim, fluem naturalmente. Você está sempre progredindo, cada segundo algo microscópico, mas logo se transforma num pequeno passo. Leve a vida, faça desejos (é gostoso sonhar), mas saiba que as coisas não são uma droga porque algo que você queria muito não aconteceu, já que a cada dia algo novo entra discretamente na sua rotina.

Gabriela Martelo

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Pouco sei

Pouco sei do tempo cronológico. Engraçado, pois o mesmo é o que pode ser contado, sendo agrupado em dias, meses, etc. Ou seja, logicamente, ele tinha que ter um maior entendimento de minha parte, visto que tem o intuito de facilitar a noção de passagem do tempo. Mas prefiro me aventurar no meu psicológico e assistir as primaveras passarem de acordo com o meu ver. Se eu estiver melancólica, os ponteiros se arrastarão, eu verei cada pequeno passo da escuridão e me encolherei até o dia raiar. Caso a juventude bater na minha porta, trazendo de bônus a alegria, o dia e a noite irão se confundir, visto que a tal exatidão irá voar. Pouco sei da felicidade. Engraçado, pois já a senti milhões de vezes. Senti sua presença acompanhada pelo amor e pela amizade, porém não consigo definir como ela é. Fiquei tão ocupada usufruindo os seus efeitos que o pensamento racional foi em vão. Pouco sei da falsidade. Engraçado, pois esta me decepcionou e tirou o azul do meu céu várias e várias vezes, mas ainda assim, não sei explicar a causa de sua existência e não pretendo me aproximar dessa escuridão. Pouco sei da vida. Não tem do que achar graça agora, já que realmente tenho pouco tempo de vida. Mas o meu maior medo é chegar aos 80 anos e repetir essa afirmação. De fato, muito pouco sei das coisas, mas irei um dia juntar todos esses pedacinhos e dizer: muito sei da vida, conheci um pouco de seus cantos e hoje tenho na memória todas as suas faces.

Gabriela Martelo

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Dona do teu coração

  As ondas batem forte na areia como o vento brinca com os meus cabelos. Olho ao redor, e percebo que a praia está deserta. Apenas eu e a minha esperança de te encontrar. Pode parecer loucura esperar que alguém surja em algum lugar aleatório, mas você não é "alguém". Você gosta de sair por aí, sem rumo, viajar, não pensar na vida, apenas pegar o momento. E eu espero que você esteja passando por essa praia que aparenta ser vazia e tenha vontade de explorá-la.
  Eu olho para o mar, que se mistura com o azul do céu, e sinto sua presença. Não é a minha cabeça, olho para trás e lá está você, pouco se importando com o traje, andando desengonçado pela areia, que para mim é um charme. Mas você não me nota, não por ser a pessoa desligada que você é, mas porque está chorando. O seu ar indiferente para tudo simplesmente desapareceu. Você é dominado por sentimentos que achei que fossem só meus, mas você também os sente queimar no coração, pena que não é por mim.
    Entro no mar e nado até uma distância que seja segura o bastante para você não reconhecer o meu rosto. Fico ali no meio das águas observando a sua dor, que me traz uma outra dor por esse sofrimento não ser pela minha pessoa. Eu simplesmente sei que você não sente o mesmo por mim, senão me olharia de uma maneira diferente, não afastaria a mão quando eu tentasse tocá-la e não andaria com a mente tão avulssa quando eu estivesse por perto.
    Queria ser a dona do teu coração, que te machuca se não der sinal de vida, que te deixa voando com as lembranças vividas, que te faz arrepiar com um beijo. Queria ter o poder de te deixar assim, como está agora, no meio da areia, ainda que no chão, não firme. Mas na verdade é você que tem esse efeito sobre mim, e nada posso fazer para mudar isso.
    Vendo bem, estamos na mesma situação. Ambos muito tristes por um amor não correspondido. Ambos num lugar deserto, buscando na natureza algum consolo. Mas você está aí seguro na areia, enquanto eu, meu deus, estou sendo levada pela correnteza.

 Gabriela Martelo